Não durma
Alice, não durma agora. O mundo aos seus pés e você considera dormir. O planeta
inteiro quer ouvir a única garota do mundo que possui alma, e ela se calou. Mas
vamos começar pelo início dessa viagem louca que transmutou Alice no que é
agora.
Desde
pequena, sempre foi a mais comportada e dócil criança. Escondia todas as suas
dúvidas sobre vida, morte e destino, porque já sabia as respostas que seriam
dadas: céu, inferno e todo o resto. Chegou a seu conhecimento que, quando
morremos, vamos para um lugar bem bonito e cheio de paz. Isso lhe deu
esperança: "um lugar para repousar meus pensamentos": esperava o fim
da tormenta.
Sempre
ouvia vozes, que muitas vezes, a diziam o que fazer, mas ultimamente as vozes
estavam mais fortes, e Alice já não as controlava como antes. As imagens que
rondavam suas órbitas não eram de vida e alegria: era do outro lado, a
escuridão repleta de sombras que a atormentavam. Suas palavras já não possuíam
tanta alma quanto antes, e ela se perguntava - estou morrendo da alma pra fora?
- sim, pois ingênua como era acreditava que a alma se encontrava dentro do
nosso corpo. E a resposta final à essa pergunta era sim, Alice estava morrendo.
O mundo em suas costas já estava grande demais. 7 bilhões de pessoas que, para
ela, dependiam de sua ajuda; que precisavam que alguém as guiasse diante de
seus limites na vida. Alice não tinha a mesma sorte: não tinha com quem contar.
Não havia
ninguém para salvá-la, ninguém que a confortasse. Havia somente o vazio, que
trazia a queda como solução de todos os seus problemas, mas ela tinha medo.
Nossa menina ainda não havia aprendido que a queda é maravilhosa; que o que
devia meter medo era o chão. Aquele chão que a acolhia quando sentia sua cama
confortável demais para sua pequenez. Aquele espaço que julgava ser merecedora,
diante da sua impossibilidade de ajudar a todos.
Caminhava
como se seus pés não tocassem a terra por onde passava. Flutuava em meio a um
universo instável, que agora chamava de vida. Lia para tirar toda atenção de
seu eu que se esvaía pelos cantos mais obscuros do planeta. Queria rodar o
mundo, mas não saía do quarteirão de sua casa. Agarrava-se ao que conhecia para
não se perder no caminho para a morte. Aceitara seu destino com todo medo que
deveria ter.
(original de 2010, com alterações em 2014)
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