segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Alice


Não durma Alice, não durma agora. O mundo aos seus pés e você considera dormir. O planeta inteiro quer ouvir a única garota do mundo que possui alma, e ela se calou. Mas vamos começar pelo início dessa viagem louca que transmutou Alice no que é agora.

Desde pequena, sempre foi a mais comportada e dócil criança. Escondia todas as suas dúvidas sobre vida, morte e destino, porque já sabia as respostas que seriam dadas: céu, inferno e todo o resto. Chegou a seu conhecimento que, quando morremos, vamos para um lugar bem bonito e cheio de paz. Isso lhe deu esperança: "um lugar para repousar meus pensamentos": esperava o fim da tormenta.

Sempre ouvia vozes, que muitas vezes, a diziam o que fazer, mas ultimamente as vozes estavam mais fortes, e Alice já não as controlava como antes. As imagens que rondavam suas órbitas não eram de vida e alegria: era do outro lado, a escuridão repleta de sombras que a atormentavam. Suas palavras já não possuíam tanta alma quanto antes, e ela se perguntava - estou morrendo da alma pra fora? - sim, pois ingênua como era acreditava que a alma se encontrava dentro do nosso corpo. E a resposta final à essa pergunta era sim, Alice estava morrendo. O mundo em suas costas já estava grande demais. 7 bilhões de pessoas que, para ela, dependiam de sua ajuda; que precisavam que alguém as guiasse diante de seus limites na vida. Alice não tinha a mesma sorte: não tinha com quem contar.

Não havia ninguém para salvá-la, ninguém que a confortasse. Havia somente o vazio, que trazia a queda como solução de todos os seus problemas, mas ela tinha medo. Nossa menina ainda não havia aprendido que a queda é maravilhosa; que o que devia meter medo era o chão. Aquele chão que a acolhia quando sentia sua cama confortável demais para sua pequenez. Aquele espaço que julgava ser merecedora, diante da sua impossibilidade de ajudar a todos.


Caminhava como se seus pés não tocassem a terra por onde passava. Flutuava em meio a um universo instável, que agora chamava de vida. Lia para tirar toda atenção de seu eu que se esvaía pelos cantos mais obscuros do planeta. Queria rodar o mundo, mas não saía do quarteirão de sua casa. Agarrava-se ao que conhecia para não se perder no caminho para a morte. Aceitara seu destino com todo medo que deveria ter.

(original de 2010, com alterações em 2014)

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